Obon no calendário chinês
Obon no calendário chinês
Haitai caro leitor!
Este mês continuaremos falando mais sobre o Obon.
Afinal, esta é um dos períodos mais importantes dentro dos rituais anuais para os uchinanchu, não importando se
seguem as datas adaptadas ao calendário ocidental ou se ainda costumam seguir as datas do tradicional calendário lunissolar chinês.
Talvez a maioria das famílias uchinanchu sigam o calendário ocidental em que o Obon é comemorado em julho, penso que é muito importante todos saberem que o mês lunar sete é o período em que as energias dos mortos ficam mais perto do plano material, por isso é uma época propícia para todo tipo de rezas feitas para os antepassados.
Mas como nasceu o calendário lunissolar chinês?
Há mais de quatro mil anos, os sábios chineses só podiam contar com a observação da Natureza e os fenômenos celestes ligados a ela. Com o tempo, perceberam que os fenômenos celestes realmente exerciam grande importância para determinar o período de fertilidade da terra e o comportamento dos animais. Isso representa um papel preponderante na vida das pessoas, em especial dos agricultores, em regiões onde as estações do ano são bem marcadas e a temporada de frio, pouco propícia para plantar.
As preocupações práticas sobre as melhores épocas para o plantio, parecem ter orientado a confecção do calendário tradicional chinês, comumente chamado 农历 nónglì, denominação que, não por acaso, significa “calendário agrícola”. Aliás,
a palavra usada para mês e lua é a mesma, 月yuè, assim como a usada para dia e sol, 日rì. Baseado nos movimentos aparentes do sol e da lua, o calendário chinês é lunissolar.
O calendário tradicional é uma contagem dos 12 ciclos lunares, entre o início da segunda lua nova após o solstício de inverno, até a segunda lua nova após o solstício do inverno seguinte. Esse dia – sempre entre 21 de janeiro e 20 de fevereiro, pelo calendário gregoriano – é o início de um novo ciclo, ou, em termos mais festivos, “Festival da Primavera”, ou
Ano-Novo chinês.
Obon lunar:
Na época mais quente do ano, o mês lunar sete ou Shichiguachí (em uchinaaguchí quer dizer mês 07) é considerado o mês dos Antepassados em Okinawa e é quando ocorre o Obon, o Finados do calendário lunissolar chinês. A energia do Shichiguachí possibilita a interação dos vivos com os antepassados, pois é quando as vibrações do Sol e da Lua em relação à Terra provocam forte magnetismo espiritual, além das noites serem agradavelmente frescas para as andanças dos grupos de eisá chamando os antepassados através dos tambores, o que segundo os antigos, relembra aos falecidos as batidas do coração ou “chimu dondon” em uchinaguchí.
Em Okinawa não há necessidade de ir à templos ou igrejas como acontece com as religiões, pois o Sosen Suuhai (culto
familiar aos antepassados no sistema de Okinawa) é uma prática espiritual familiar onde todos os rituais são feitos pela família na casa onde está o butsudan e a comunicação com os ancestrais é direta, através das intenções,
oferendas e conversas.
O Obon é o evento anual que nos lembra que somos muito mais do que matéria, somos seres espirituais.
Calendário do Obon lunar no Ano do Tigre de Água:
Neste Ano do Tigre de Água, no calendário das rezas de Okinawa, o mês lunar 07 começa em 29/07/2022 e termina dia 26/08/22.
Este período, com exceção dos dias do Obon (veja abaixo), é o tempo mais propício para resolver problemas ligados aos antepassados ou aos túmulos familiares.
Resumo do cronograma de Obon do Ano do Tigre de Água:
Dia 04/08/2022 Tanabata
Nesse período, no 7º dia do 7º mês lunar,
acontece o dia neutro do ano, mais conhecido como TANABATA, é o dia do ano propício para ir ao cemitério fazer a limpeza dos túmulos.
*O Tanabata é o dia ideal para fazer a limpeza da tigela do butsudan.
Dia 10/08/2022 UNKE – abertura do Obon:
É a noite em que evocamos os antepassados do butsudan da casa com um jantar simples
Dia 11/08/2022 NAKABI
Nesse dia a casa fica aberta à visita de parentes e amigos (muito raro no Brasil), e servimos as três refeições principais
do dia no butsudan.
12/08/2022 UKUI – Encerramento
Coloca-se café da manhã e almoço normalmente, mas no jantar é oferecido um banquete de pratos típicos que simboliza o jantar de despedida dos antepassados e a demonstração que vivemos com fartura e por isso somos gratos a
eles! Após o jantar, os antepassados retornam ao plano espiritual, satisfeitos por verem os seus descendentes se confraternizando e prosperando neste mundo.
Conclusão:
Esta é a forma okinawana de praticar a espiritualidade: rezamos em memória dos antepassados desejando o melhor em sua jornada espiritual e amenizamos a saudade relembrando os momentos felizes na companhia dos parentes que nos são queridos, mas que na correria do dia a dia nunca vemos.
Até 2.019, Okinawa ficava lotada de gente, muitos filhos e netos que foram viver fora, tanto no Japão como no exterior,
voltavam para comemorar o Obon com a família para mais uma vez ter a possibilidade de sentir a presença das pessoas amadas que já não estão mais no plano material.
Hoje em dia, mesmo em Okinawa, os protocolos da pandemia de Covid-19 recomendam cautela. Assim como no Brasil e no mundo, muitas práticas e conceitos de vida estão sendo adaptados, repensados para os novos tempos do século XXI.
Penso que assim como nos conectamos aos nossos queridos antepassados, que estão em outro plano, podemos fazer o mesmo com os vivos, alguns podemos encontrar pessoalmente, mas em relação às aglomerações podemos fazer de maneira mais segura através de vídeo conferências.
Novo século, novas necessidades, período propício para fortalecermos nossos rituais espirituais, mas podemos repensar
nas adaptações aos novos tempos. Fica aqui a sugestão de conversarem a respeito com seus pais, filhos, netos e amigos!
YUI MAARU: Juntos somos melhores e mais fortes!
Por: Beatriz Nagahama
E-mail: okinawaespiritual@gmail.com
