Lembranças de Okinawa
Lembranças de Okinawa
Chegada. São 7:38 da manhã. O sol lampeja intenso lá
fora do avião. Vendo a silhueta escura da Ilha de Okinawa, vieram-me, com
secura na garganta, fortes lampejos emocionais.
Lampejos de luz, um caminhão de emoções em um lapso de
tempo.
Não deu para segurar a emoção, lágrimas rolaram
involuntariamente. Uma aeromoça viu, mas nada disse, talvez para ser discreta
em sua profissão.
O mundo é tão vasto e tão pequeno. Eis-me, revendo
minha história de vida.
Instante de emoção, tão rápido, neste mundo apressado
em que hoje vivemos. Mas o momento concentrava muitos pensamentos. Um momento
único, lembrança para todo um resto de vida. Talvez como tenha sido a partida
de otôssan para o Brasil, não pelo
ar, mas por um mar imenso. Um mar muito azul, com o apito tristonho do navio
ainda ecoando na mente, com o povoado ajuntado que se despedia com lenços
brancos, sumindo no horizonte.
Otôssan
cantarolou muitas vezes, em uchinaguchi,
por noites à luz de lamparina. Ele certamente cavoucava na memória lembranças
de partidas, como foi a sua despedida do seu punhado de “chegados” de Nakijin
(1920), rumo ao enorme e longínquo Burajiru.
Partida de cortar o coração!
Instantes nutrem nossas emoções, partidas, chegadas. Otôssan partiu para um recomeço de vida,
de um jovem cheio de expectativas, para casar, ter muitos filhos. Para plantar
em vasta plantação. Minha chegada foi de um já idoso, sem filhos, sozinho e
cheio de lembranças. Para viver cada segundo como nunca mais, lembrando-me das
muitas histórias que meu pai contava naquele seu canto de mesa.
Em Okinawa perambulei por 41 dias, aproveitando cada
momento, vendo minha sombra projetada nas calçadas, sob intenso sol de inverno
e céu azul como o azul do mar.
Chegava o momento de partida para meu Brasil, fui dar
uma volta pela Av. Kokusai, pelos arredores da estação de monotrilho, atraído
pelas águas limpinhas de um regato com peixinhos a brincar alegres.
Um passarinho estava ali, pensativo. Será que ele
simbolizava minha partida, em que ele pensava? Não pude saber, mas parece que
ele posava para uma foto.
Foto de despedida
de minha partida: até quando me lembrarei?
Passarinho pensante: dizei!
Por que não pega peixinhos nesse riacho?
Será que comunga de minha já nostalgia? Diacho.
Homenagem para os
pais, para os vivos e os que partiram.
Inverno de 2022.
Lincoln Taira, filho de Genhei Taira.